Entre bloquetes e holofotes, a política do marketing em Paço do Lumiar

Não sou especialista em marketing político, mas sou eleitor. Assisto, escuto e, como muitos, já gargalhei com as peças do horário eleitoral gratuito. Só que, ultimamente, a risada deu lugar à perplexidade. A propaganda institucional evoluiu tanto que, às vezes, parece que estamos assistindo a uma série de ficção muito bem produzida — e o atual prefeito de Paço do Lumiar, Fred Campos, é, sem dúvidas, o protagonista mais midiático dessa temporada.

A entrega da pavimentação da Rua da Mangaba, no bairro Mojó, foi mais um desses capítulos cuidadosamente roteirizados. A rua ganhou bloquetes, luzes de LED e uma encenação digna de novela das seis. Teve cartaz emocionado, discursos carregados de otimismo, vereadores enfileirados, banda de música e até, como mostra a imagem, um cadeirante sendo empurrado com uma criança no colo, no meio da rua recém-inaugurada, cercado por sorrisos e câmeras estrategicamente posicionadas. Um retrato que fala por si só.

Mas o que essa imagem realmente comunica?

Por trás do simbolismo, há um desconforto inevitável: o uso de pessoas como instrumentos de propaganda. É legítima a emoção de uma moradora que finalmente vê a poeira e a lama substituídas por calçamento. É real a necessidade das comunidades por infraestrutura. Mas é também justo perguntar: por que isso tudo vira um show tão bem ensaiado?

Fred Campos tem, sem dúvida, a melhor equipe de marketing político do Maranhão hoje. E talvez por isso, muitos eleitores se sintam mais impactados por fotos e vídeos do que por números ou resultados concretos. Só que Paço do Lumiar precisa de gestão de verdade, não de direção de cena.

Enquanto uma rua é entregue com festa, dezenas de outras permanecem no abandono. Enquanto uma obra vira símbolo de transformação, há escolas sucateadas, unidades de saúde com falta de estrutura e comunidades que nem sabem o que é ter um meio-fio.

A pavimentação da Rua da Mangaba não deveria ser o auge de uma administração. Deveria ser rotina. Fazer o básico, com dinheiro público, não pode ser tratado como ato heroico.

A população não precisa de eventos cinematográficos. Precisa de compromisso constante, obras entregues com responsabilidade e, principalmente, respeito à sua inteligência. Entre o bloquete e o holofote, o povo de Paço do Lumiar merece ficar com o que realmente importa: dignidade, sem espetáculo.

No fim das contas, entre flashes, bloquetes e discursos ensaiados, fica a dúvida, o que está sendo pavimentado de verdade, as ruas ou a imagem do prefeito?



source https://slzma.com.br/entre-bloquetes-e-holofotes-a-politica-do-marketing-em-paco-do-lumiar/

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